O presidente Lula comemora a liberação do STF para tocar em frente as obras de transposição do São Francisco que, segundo ele, já era plano no governo de Dom Pedro II. O imperador Pedro de Bragança e Habsburgo certamente não se sentiu com suficiente autoridade para realizar a obra, mas o "imperador" Lula da Silva está se sentindo o todo poderoso. E ele tem o poder que nós lhe outorgamos através do voto, para administrar o país, obviamente, respeitando a Constituição. Mas depois de eleito, os seus aliados, interesseiros, lhe deram outros poderes, indo além do que determina a Constituição, desde que os beneficiem plenamente. Então, o operário que os sindicatos, movimentos e pastorais sociais e outras organizações populares, no mais digno exercício da democracia, o fizeram presidente da República, agora age com autoritarismo e prepotência, como se estivesse numa monarquia.
Com o discurso de levar água para saciar a cede de 12 milhões de pessoas, Lula se sente no poder de mudar o curso de um rio para regar e sustentar a ganância do agronegócio. O governo do "imperador" Lula da Silva poderia usar menos dinheiro para revitalizar o rio, construir cisternas e levar água para 40 milhões de pessoas e não apenas para 12 milhões. Mas isso lhe daria um problema enorme. Os seus aliados do agronegócio iriam ficar na mão, não teriam suas monoculturas irrigadas com as águas do São Francisco. E, certamente, uma bancada ruralista, os investidores estrangeiros e outros poderosos e lacaios incomodam muito mais que o gesto de jejum e oração de um bispo apoiado pelas pastorais e os movimentos sociais e ambientais. Por isso, Lula não teria escolha, a obra tinha de sair. E sai com a bênção do STF. Mas é isto o que se poderia esperar da suprema corte de um país onde quase toda a supremacia é uma só laia de "podres poderes".
Depois disso tudo - apesar da dor - com alegria, o que se pode dizer é: Obrigado, Dom Cappio! Obrigado por mostrar ao povo brasileiro a verdade sobre o projeto de transposição. Teu jejum não foi em vão, valeu muito mais do que se possa imaginar. Mostrou que é necessário e possível revitalizar o rio para que as futuras gerações possam tê-lo vivo e garantir água, não apenas para 12 milhões, mas 40 milhões de pessoas que hoje sofrem com a seca.
A verdade escancarada pelo gesto de Frei Luiz Cappio é tão forte que, para escondê-la um pouco, foi preciso muita mentira da parte do governo. E Dom Cappio, por seu espírito franciscano, pediu desculpas aos que sofreram por sua causa. Não precisa, não deve se desculpar. Nós, mesmo que o apoiamos, é que devemos pedir perdão por termos feito tão pouco ou quase nada diante de um gesto tão forte e tão pleno de verdade e coerência.
Daqui para frente a luta pelo Rio São Francisco continua ainda mais viva e despertando em todo o Brasil um espírito revolucionário ecológico. A causa ambiental, definitivamente, faz parte das lutas sociais. Os movimentos e organizações populares que atuam em questões sociais e políticas estavam ao lado de Dom Cappio na defesa do São Francisco. Agora ficou mais claro que, quando se luta pelos povos, é preciso defender a vida do rio e da natureza, porque tudo está interligado. O gesto de Dom Cappio foi uma lição de vida, de luta e de coragem que nossa civilização estava precisando para dar um passo à frente. Obrigado, Dom Cappio!
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