domingo, 27 de abril de 2008

O outro lado do papel



Por Frei Pilato Pereira

Quando apanhamos um papel para ler ou escrever, seja um jornal, um livrou ou uma folha qualquer, dificilmente refletimos sobre o impacto ambiental e social que o consumo de um simples papel pode causar. Se fossemos agir desta forma, diante de qualquer produto que utilizamos, seríamos consumidores conscientes, atendendo a uma obrigatória exigência do nosso tempo. Já que precisamos consumir, pelo menos, poderíamos agir de forma mais consciente e responsável.

Estamos tão acostumados com a face limpa e bela do papel, seja ele branco ou colorido. E esquecemos de ver o seu outro lado, a face suja do papel que destrói a beleza da vida e explora as pessoas e a natureza. Como diz o ditado, "o papel aceita tudo". Mentiras e verdades são impressas no papel do jornal, da revista e do livro. Até podemos ler as mentiras, mas não devemos deixar de querer conhecer as verdades, por mais inconvenientes e adversas que sejam. E são muitas as verdades que estão para serem lidas no outro lado, no verso do papel. O lado escondido da produção e do consumo do papel.

A matéria-prima básica da indústria do papel, a celulose é um material fibroso presente na madeira. Em seu processo de fabricação, depois de descascada e picada em lascas, a madeira passa a ser cozida com produtos químicos, para separar a celulose da lignina e demais componentes vegetais. A etapa posterior, o branqueamento da celulose, é um processo que envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que vai ser utilizada para fazer o papel.

Esses compostos, classificados pela EPA, a agência ambiental norte-americana, como os mais potentes cancerígenos já testados em laboratórios, também estão associados a várias doenças do sistema endócrino, reprodutivo, nervoso e imunológico. Mesmo com o tratamento de efluentes na fábrica, as dioxinas permanecem e são lançadas nos rios, contaminando a água, o solo e conseqüentemente a vegetação e os animais, inclusive os que são usados para consumo humano. No organismo dos animais e do ser humano, as dioxinas têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminadas e vão se armazenando nos tecidos gordurosos do corpo.

A Europa já aboliu completamente o cloro na fabricação do papel e o branqueamento é feito com oxigênio, peróxido de hidrogênio e ozônio. Mas nos Estados Unidos e no Brasil, e em favor de interesses da indústria, o dióxido de cloro continua sendo usado. É importante lembrar também que três grandes empresas de celulose estão se instalando no Rio Grande do Sul, onde pretendem plantar um milhão de hectares de arvores exóticas para a indústria de papel, da qual exportarão mais de 95% do produto. Isto significa que os restos tóxicos e os tocos das árvores ficarão por aqui causando irreparáveis impactos socioambientais.

O monocultivo de eucaliptos e outras plantas exóticas que alimentam a indústria de celulose e papel, além de causar sérios problemas ambientais, também aumentam a concentração da terra, expulsando agricultores e comunidades nativas, o que resulta em vazios populacionais. Esta atividade dificulta o processo de Reforma Agrária, não gera emprego e diminui postos de trabalho. E depois de duas safras de eucaliptos, por exemplo, após 14 anos, estas empresas nos deixarão de herança um Pampa devastado e sem vida, virado em tocos, sem rios, sem fauna e flora nativas.

Desde o plantio de árvores para a matéria-prima, até o fim de seu processo industrial, o papel segue um caminho causador de degradação socioambiental. O papel parece ser um produto indispensável. Nossa civilização não saberia viver sem papel. Mas podemos escrever e ler em papel ecológico. Temos o papel não embranquecido, aquele que não passou pelo processo de branqueamento e por isso poluiu muito menos e o papel reciclado que não precisou de mais uma árvore para ser produzido. Também podemos utilizar menos papel, nos re-educando para sair da cultura do descartável. Enfim, é preciso consumir o mínimo necessário e usar papel ecológico. A natureza e as gerações futuras desde já nos agradecem.


segunda-feira, 7 de abril de 2008

2008 é o ano do Planeta

Vamos nos unir para cuidar nosso planeta!

Ecologia, a arte da reconciliação

Por Frei Pilato Pereira

Nossos antepassados viveram nas florestas e, certamente, sentiam medo da sua complexidade. As florestas representavam perigo aos seres humanos, como a todos os animais. Para fugir das florestas, as comunidades humanas foram se aglomerando, primeiro com trabalho agrícola, depois veio a indústria, até chegarmos ao mais moderno e complexo mundo urbano que hoje conhecemos. E as cidades são tão complexas quanto as floretas. Assim como as florestas causavam medo e perplexidade, hoje são as cidades que amedrontam constantemente. Ninguém estaria seguro numa floresta, como também não se pode dizer que alguém esteja plenamente seguro numa cidade. Podemos dizer que, ao fugir da floresta, o ser humano criou a cidade à imagem e semelhança da sua primeira habitação.

O medo de ser agredido levou o ser humano a criar técnicas de proteção. E sempre impulsionado pelo medo, chegou ao ponto de desenvolver uma altamente moderna e eficaz indústria de guerra. Com medo da fome, e tendo que migrar para locais afastados dos recursos naturais, a espécie humana se esforçou em implementar técnicas e estratégicas capazes de garantir a subsistência. Mas, o medo da morte virou violência e o medo da fome virou ganância. Violentos e gananciosos por causa do medo, os seres humanos agridem, não apenas as outras espécies, mas constantemente vivem ferindo e explorando uns aos outros. É assim que vemos a humanidade, com muitos sinais de amor e fraternidade, mas profundamente marcada pela ganância, violência, pelo ódio e o egoísmo. E, infelizmente, ainda somos uma civilização do medo e da incerteza, sentindo impotência diante dos problemas que nós mesmos criamos.

A ecologia que é o estudo da casa onde habitamos, é também a arte da reconciliação, é a ciência que nos faz pensar e mudar a forma de como nos relacionamos com tudo o que existe. Hoje, a ecologia nos convida à reconciliação. No início, os seres humanos quiseram fugir das florestas e ainda hoje fugimos das nossas cidades que construímos para viver. Fugimos do caos, da degradação, da poluição e fugimos uns dos outros. Mas agora, a ecologia nos interpela: se fugir, que seja do medo, da ganância, do ódio e da maldade, para então, nos re-encontramos na convivialidade fraterna, na solidariedade, no amor, na bondade. Temos que nos re-encontrarmos como humanidade, nos reconciliarmos com nossa condição humana, com os seres humanos, com outros seres e as outras formas de vida e com Deus criador da vida. Precisamos reatar nossa amizade com a natureza, que é fonte de vida e não simplesmente um perigo ou ameaça. A nossa sobrevivência e a continuidade real de vida no planeta depende da nossa reconciliação com a natureza.

Obrigado, Dom Cappio!

Por Frei Pilato Pereira, OFM Cap

O presidente Lula comemora a liberação do STF para tocar em frente as obras de transposição do São Francisco que, segundo ele, já era plano no governo de Dom Pedro II. O imperador Pedro de Bragança e Habsburgo certamente não se sentiu com suficiente autoridade para realizar a obra, mas o "imperador" Lula da Silva está se sentindo o todo poderoso. E ele tem o poder que nós lhe outorgamos através do voto, para administrar o país, obviamente, respeitando a Constituição. Mas depois de eleito, os seus aliados, interesseiros, lhe deram outros poderes, indo além do que determina a Constituição, desde que os beneficiem plenamente. Então, o operário que os sindicatos, movimentos e pastorais sociais e outras organizações populares, no mais digno exercício da democracia, o fizeram presidente da República, agora age com autoritarismo e prepotência, como se estivesse numa monarquia.

Com o discurso de levar água para saciar a cede de 12 milhões de pessoas, Lula se sente no poder de mudar o curso de um rio para regar e sustentar a ganância do agronegócio. O governo do "imperador" Lula da Silva poderia usar menos dinheiro para revitalizar o rio, construir cisternas e levar água para 40 milhões de pessoas e não apenas para 12 milhões. Mas isso lhe daria um problema enorme. Os seus aliados do agronegócio iriam ficar na mão, não teriam suas monoculturas irrigadas com as águas do São Francisco. E, certamente, uma bancada ruralista, os investidores estrangeiros e outros poderosos e lacaios incomodam muito mais que o gesto de jejum e oração de um bispo apoiado pelas pastorais e os movimentos sociais e ambientais. Por isso, Lula não teria escolha, a obra tinha de sair. E sai com a bênção do STF. Mas é isto o que se poderia esperar da suprema corte de um país onde quase toda a supremacia é uma só laia de "podres poderes".

Depois disso tudo - apesar da dor - com alegria, o que se pode dizer é: Obrigado, Dom Cappio! Obrigado por mostrar ao povo brasileiro a verdade sobre o projeto de transposição. Teu jejum não foi em vão, valeu muito mais do que se possa imaginar. Mostrou que é necessário e possível revitalizar o rio para que as futuras gerações possam tê-lo vivo e garantir água, não apenas para 12 milhões, mas 40 milhões de pessoas que hoje sofrem com a seca.

A verdade escancarada pelo gesto de Frei Luiz Cappio é tão forte que, para escondê-la um pouco, foi preciso muita mentira da parte do governo. E Dom Cappio, por seu espírito franciscano, pediu desculpas aos que sofreram por sua causa. Não precisa, não deve se desculpar. Nós, mesmo que o apoiamos, é que devemos pedir perdão por termos feito tão pouco ou quase nada diante de um gesto tão forte e tão pleno de verdade e coerência.

Daqui para frente a luta pelo Rio São Francisco continua ainda mais viva e despertando em todo o Brasil um espírito revolucionário ecológico. A causa ambiental, definitivamente, faz parte das lutas sociais. Os movimentos e organizações populares que atuam em questões sociais e políticas estavam ao lado de Dom Cappio na defesa do São Francisco. Agora ficou mais claro que, quando se luta pelos povos, é preciso defender a vida do rio e da natureza, porque tudo está interligado. O gesto de Dom Cappio foi uma lição de vida, de luta e de coragem que nossa civilização estava precisando para dar um passo à frente. Obrigado, Dom Cappio!

Abominável violência contra a mulher

Por Frei Pilato Pereira
 
A versão mais difundida sobre a origem do Dia Internacional da Mulher é de que em 8 de março de 1857, 129 operárias de uma fábrica de tecidos, de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica reivindicando melhores condições de trabalho e a manifestação foi reprimida com total violência pela polícia dos patrões. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada e elas morreram carbonizadas, num ato brutal e desumano. Pesquisas chegam a negar que isto realmente tenha ocorrido. Mas a história revela inúmeros fatos reais de violência contra a mulher. E outras versões sobre o Dia Internacional da Mulher também estão relacionadas à luta das mulheres por mais dignidade e respeito, e contra a violência sofrida por elas e seus filhos.

Desde que acompanho as celebrações do dia 8 de março, todos os anos, este dia é pautado pelo tema da violência contra a mulher. E tenho percebido que quando as mulheres também lutam contra outros tipos de violência, elas mais uma vez são vítimas da violência. E o que é pior, se trata de uma violência institucional. Como por exemplo, no dia 8 de março de 2006, um grupo de mulheres da Via Campesina ocupou um horto florestal da Aracruz celulose, para protestar contra a violência das monoculturas de eucaliptos que podem causar terríveis desastres socioambientais no Rio Grande do Sul. As mulheres foram reprimidas pela polícia, pela grande mídia e pela própria Justiça. Foram vítimas da violência institucionalizada quando lutavam contra a violência. A luta das mulheres sem terra, por exemplo, não poucas vezes foi respondida pelo Estado com violência e brutalidade policial. Ou seja, elas lutam contra a violência que sofrem ou a violência cometida contra seus filhos e acabam sofrendo muito mais violações, são agredidas e desrespeitadas por agentes do próprio Estado, que é a polícia.

Agora em 2008, na semana do Dia Internacional da Mulher, militantes da Via Campesina novamente fizeram protestos contra as monoculturas de eucaliptos. E desta vez denunciando algo muito mais grave que é a sutil invasão de multinacionais sobre terras da fronteira do Brasil. No município de Rosário do Sul, numa fazenda da multinacional Stora Enso, as mulheres roçaram eucaliptos e plantaram mudas de arvores nativas. Um gesto nobre de quem quer libertar o Pampa das garras das multinacionais e protege-lo para que seus filhos e as futuras gerações possam ter terra e pão na mesa.

O movimento pedia a anulação das compras de terra feitas ilegalmente pela multinacional na faixa de fronteira e reivindicava essas terras para a Reforma Agrária, que resultaria em produção de alimentos. Desta vez a ação policial comandada por uma mulher, a governadora Yeda do PSDB, foi totalmente repressiva. Os policiais, na maioria homens, sem piedade e com voraz truculência, agrediram as mulheres e, inclusive crianças que acompanhavam suas mães. As mulheres relatam ações perversas de violência policial.
Além de apontar armas para mulheres acompanhadas de crianças, os homens da Brigada Militar bateram nelas, prenderam as lideranças e extraviaram seus pertences, como documentos, roupas e alimentos. Os policiais também privaram mulheres e crianças de se alimentar e beber água por várias horas e muitas delas tiveram que ser hospitalizadas por problemas de saúde causados pela agressão policial É inacreditável que isto ocorra num país que diz respeitar os direitos humanos. O mais contraditório é o fato de que esta ação de violência contra as mulheres foi comandada por uma mulher, a governadora do estado, Yeda Crusius.

Mulheres que lutam contra a violência, são vítimas da violência da autoridade que deveria lhes dar segurança e garantir a dignidade delas e de seus filhos. Já é sabido que muitas mulheres não denunciam a violência doméstica por medo de sofrerem ainda mais violência. O mesmo vem ocorrendo com a violência na sociedade. Mulheres vão às ruas protestar contra a violência e são vítimas da violência cometida contra elas pelo próprio Estado. Isto se chama repressão, muito comum na ditadura militar, algo abominável que infelizmente vem ocorrendo em plena "democracia".

O que dizer desses policiais que agrediram as mulheres? Como diz o ditado popular: "homem que bate em mulher, não é homem". Quem nasceu de uma mulher, só se torna seu agressor quando perde sua humanidade, sua dignidade humana. E, portanto, não é mais homem, é o pior dos animais. A violência contra a mulher é algo abominável e isto tem que acabar. Pois, o que se pode esperar das futuras gerações que crescem assistindo suas mães sendo agredidas? O filho que vê o pai agredir a sua mãe, cresce com raiva e ódio do próprio pai. O filho que vê a autoridade constituída, o Estado com seu aparato policial, agredir e maltratar sua mãe, também vai crescer com um sentimento de ódio cívico.

A governadora do Rio Grande do Sul deveria colocar a mão na consciência e se dar conta do grande mal que fez em mandar ou permitir a violenta ação policial contra as mulheres da Via Campesina no último dia 4 de março quando celebravam a semana do Dia Internacional da Mulher.

domingo, 6 de abril de 2008

Resgatar a Ecologia de São Francisco de Assis

Neste tempo de crise ecológica e de muitas preocupações e dúvidas sobre o futuro da vida no Planeta Terra, precisamos, com urgência, resgatar a ecologia de Francisco de Assis. Não é por nada que São Francisco é o padroeiro da ecologia. Antes que a palavra ecologia fosse dita, Francisco já era um verdadeiro ecologista no seu modo de viver e se relacionar com a natureza. Ele era ecologista nas coisas simples como, por exemplo, recolher do caminho os vermezinhos para que não fossem pisados e alimentar as abelhas com mel e vinho para que elas pudessem sobreviver ao inverno. São atitudes simples, que até podem ser vistas com ironia, por alguns, mas só é capaz de cuidar da vida e ajudar a proteger o planeta quem tiver a sensibilidade de cuidar das menores e mais "insignificantes" criaturas. O apóstolo da ecologia, Francisco de Assis, "chamava com o nome de irmão todos os animais". E o seu carinho pelas criaturas era sempre retribuído. As criaturas eram amáveis com ele como diz na Biografia Segunda de Celano, onde também encontramos sete capítulos que mostram a relação fraterna de Francisco com a natureza.

Entre tantos elementos nos escritos Franciscanos sobre ecologia, o que mais nos chama a atenção é o famoso "Cântico do Irmão Sol" ou também conhecido como "Louvores das Criaturas". A primeira impressão que temos é que Francisco louva o Criador com as criaturas, como se ele convidasse as criaturas, suas irmãs todas, a louvar com ele ao Deus Criador. Parece que ele está em plena comunhão com a natureza e todas as formas de vida. Mas há uma diferença entre nós cantarmos este cântico hoje e o que o mesmo significou para Francisco naquele momento de sua vida.

Podemos cantar o Cântico do Irmão Sol olhando o sol, a lua e as estrelas que brilham no céu, sentindo o soprar do vento, o perfume das flores e respirando o ar. Podemos cantar sentindo e olhando a beleza, a profundidade e a pureza da água, o vigor do fogo e a vitalidade da mãe e irmã Terra que nos sustenta com seus frutos, flores e ervas. Francisco, porém, já não via mais nada, naquele momento estava cego, doente, quase morrendo, suportando uma terrível dor. Mas tudo o que cantou em seu Cântico já estava em seu coração. A imagem da integridade das criaturas expressa no Cântico do Irmão Sol já estava no mais profundo de sua alma. Não era apenas o que ele via, mas o que ele aprendeu a viver ao longo da vida e agora vivia em plenitude.

Ao cantar louvores ao Deus Criador, nesta forma, com seu cântico, de mãos dadas com todas as criaturas, em plena sintonia com a vida, Francisco era um ser reintegrado ao cosmo. E isso expressa sua prática ecológica, uma caminhada progressiva na relação amorosa com as criaturas de Deus. Este cântico é a expressão de um caminho espiritual-ecológico desde a sua conversão, que culmina numa atmosfera de fraternidade cósmica. O Cântico do Irmão Sol é a alma de São Francisco, que percorreu um caminho de conversão no relacionamento, não somente físico e biológico, mas também espiritual com as criaturas.

Tomar o Cântico do Irmão Sol pode ser uma forma de apreciar sua poesia, mas é também contemplar a alma de Francisco. Este cântico é sua alma viva em plena sintonia com todas as formas de vida. Ele já não vê apenas um sentido utilitário, mas vê nas criaturas o valor em si de cada uma. Sua visão evoluiu e ele se sente irmão de todas as criaturas. A mãe Terra é para Francisco a irmã Terra, ou seja, ele se sente responsável em cuidar do planeta que sustenta a vida. E isto deve ser aplicado na nossa ecologia. Precisamos resgatar a Ecologia de Francisco e mudarmos o nosso modo de nos relacionarmos com a vida. É preciso saber cuidar da vida nas pequenas coisas, dialogar e aprender com a natureza, respeitando sua alteridade. Temos um caminho espiritual-ecológico a percorrer, um caminho de constante conversão e de reconciliação com a natureza, com todas as formas de vida.
 
Frei Pilato Pereira

É preciso 6,5 bilhões de cientistas para salvar o planeta

Recentemente o jornal britânico The Guardian preparou uma lista que reúne as "50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta". São políticos, artistas, cientistas e ativistas, homens e mulheres de todas as partes do mundo, pessoas mais engajadas, sérias e competentes. E nesta lista consta apenas um nome da América Latina. É o nome de Marina Silva, a ministra brasileira do Meio Ambiente. A informação é que a ministra Marina, desde quando assumiu o ministério, fez com que o desmatamento na Amazônia caísse 75% e destinou algumas áreas de floresta para as comunidades indígenas. Podemos dizer que nossa ministra fez por merecer. Mas, certamente, seu nome consta na lista porque muito pode e deverá fazer em favor do planeta. Outro fato destacado recentemente na imprensa é que dez cientistas importantes deram suas dicas de como podemos resolver os principais problemas ambientais da Terra.

Tudo isto é importante. É bom que os cientistas renomados façam a sua parte, que ajudem a humanidade a encontrar alternativas viáveis para preservar a vida. Mesmo que às vezes suas idéias parecem exageradamente fantásticas e longe da realidade. E também é preciso mostrar o bom exemplo, o trabalho de pessoas sérias e comprometidas, que lutam em favor do planeta que é a casa de todos e todas. Mas não podemos esperar que apenas as "50 pessoas" mais engajadas na questão ambiental, mudem a face da Terra. Também não podemos simplesmente esperar pela concretização das fantásticas idéias de cientistas. É preciso que todos os habitantes do planeta façam a sua parte. Os cientistas muito têm a contribuir com sua ciência e devem colocar a técnica e todo o seu aprendizado e suas pesquisas a serviço da vida. Artistas, políticos, administradores, governantes, autoridades e lideranças das mais diversas esferas da sociedade devem trabalhar seriamente, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para que a Terra e todas as suas formas de vida continuem vivas. Porém, se ficar somente nisso, nós não poderemos contar com o futuro vivo. Algo concreto deve ser feito por todos os seres humanos que habitam a Terra.

A população atual da Terra está entorno de 6,5 bilhões de habitantes e é de todos estes que o planeta precisa para se recuperar da atual crise ecológica. Não é de apenas dez cientistas que o planeta precisa, mas que os 6,5 bilhões de habitantes, nas suas mais diversas ciências, nos seus mais diversos saberes e poderes, pensem, criem idéias sustentáveis em favor da vida e as coloquem em prática. É preciso que todos e todas façam alguma coisa, por menor que seja. Parece absurdo pensar que todos os habitantes do planeta vão se ocupar com práticas ecologicamente corretas. Mas, precisamos trabalhar com este apelo para que a cada momento mais e mais pessoas estejam concretamente engajadas na luta em defesa da vida. Em vez de pensar que alguns vão fazer algo por nós, vamos nós procurar fazer algo por todos. Ciência, saber, conhecimento não é privilégio de alguns, é dom de Deus que está em todos os seres humanos, e cada um desenvolve de alguma forma, pensando, inventando, recriando a vida. E agora, é necessário que todas as pessoas no mundo inteiro pensem e façam algo de bom para o planeta. Pessoas simples e pequenas em lugares humildes e pequenos, fazendo pequenas coisas, são capazes de mudar a face da Terra.

Frei Pilato Pereira